Eduardo Mondlane

É bom que o descanso eterno lhe acompanhe
Te escrevo essa carta sentado em uma ponte
Com o cérebro pesado em correntes
De todo sofrimento que lhe observo
Milhões de moçambicanos em desgosto
Enquanto uma dúzia está contente

Diz-me se essa matemática é correta
Lembro do teu sonho de nos libertar
E qual é o sentido disto?
Libertar para no futuro aprisionar ?


Nessas ruas há fumaça
Nessas terras férteis morreu a esperança
Enquanto uma dúzia vive na abundância
Fingindo não se importar eles estão na ignorância

Oque direi aos teu netos futuramente?
Quando eles perguntarem
Porquê que tu lutou por nós
Se hoje não podemos falar
Somos obrigados a esconder a voz

Sim, senhor Eduardo
São lágrimas no meu rosto
Sentado aqui na tua Lourenço Marques
É bom que o teu neto não me mate

Esse povo apenas quer liberdade de escolha
Para poder com gosto mandar o filho a escola
Esse povo não quer pólvora
Esse povo apenas quer vida nova

Não faz sentido o pão estar mais caro que a bebida
O arroz estar mais carro que uma caixa de cerveja
E queres que esse povo não se aleije
Por favor, diga, queres que este povo se ajoelhe?

O transporte mais carro que o combustível
Essa nota verde que já não vale a mil
Volto senhor Mondlane
Tenho que correr os manifestantes
Os ditos por vocês "vândalos"
Esse povo só está cansado
Este povo tem o cérebro exausto

Arrancaram-me a folha e a caneta
Por sorte viram o poema
Que é uma carta escrita por este pobre poeta
O vândalo leu em voz alta
Com a fumaça que o povo inala

Suspirou com angonia
desceu uma lágrima
Sim, Eles tem essa mania

E disseram, sim Mondlane
É isso e muito mais que não cabe na folha
É isso que a tinta na caneta era pouca
Esse verso espero que nos molda

Sim, essa nação apenas quer paz
Que o opressor definitivamente que vá

Chega Senhor Poeta
Se não se torna longo este poema
Muito obrigado por se lembrar do Eduardo
Esse povo esqueceu por enquanto

Chega senhor poeta....

Poema de Similton Fidelino Bambo
O primeiro a despertar é o primeiro a morrer.!